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recomece, agora sem cigarro (Ed. Urutau, 2019), meu primeiro livro de poemas ilustrado, versa sobre questões de saúde mental e gênero. Foi lançado no Centro Cultural da UFGRS e na PUC-SP, em ocasião do XX Encontro do Associação Brasileira de Psicologia Social.

 recomece, agora sem cigarro (Ed. Urutau, 2019)

"Este é um livro de coragem. Aqui você encontrará um corpo exposto, como se virado do avesso. Christine Gryschek se aprofunda na carne, revira a mente, estuda o coração e, no fim da jornada, nos apresenta: aqui está o avesso. Ainda assim, este não é um livro de destruição, mas todo o contrário. A poeta atravessa as som - bras e a loucura para criar a si mesma, num parto doloroso, mas cheio de possibilidades. Os poemas que aqui conversam conosco trazem saltos, corvos, esfinges, oráculos silenciados e deuses em ruínas. Em certo ponto, o eu - -lírico nos diz: — na minha mente há uma mulher intuitiva — / — na minha mente há uma mulher que insiste. Estamos na presença de uma poeta ciente de que o bom trabalho na poesia, como na vida, depende da insistência. Em seu livro de estreia, Christine já sabe que escrever é es - cavar com vagarosidade e atenção. Os poemas moram escondidos em lugares escuros. É preciso buscá - los — sem causar sustos nem fugas — dentro das cavernas, no céu da boca, no oco da caixa torácica, nas águas do mar, no chão do inferno. A partir de uma autopoiese inclemente, Christine propõe recomeçar sem a fumaça turva do cigarro, com a visão clara e o pulmão aberto. Não se volta atrás, ela nos diz, mas se recomeça. Não há volta porque não há para onde voltar. É preciso escrever os lugares com os pés, assim aprendemos nesta obra. Trata-se aqui de se posicionar na curva do pensamento, bem ali onde se tem o melhor ângulo para olhar, ao mesmo tempo, para dentro e para fora. Os resultados dessa exploração podem ser violentos, mas também libertam. Entre versos às vezes narrativos e às vezes entrecortados, percebemos a beleza da vida banal que exige com - pras na padaria e também encontra - mos razão no olhar quase surrealista capaz de enxergar os ossos do furacão. Este é um livro de imagens, e não apenas por conter ilustrações. O fim de todas as imagens pode acontecer, Christine nos alerta enquanto constrói experiências com essas mesmas imagens. Uma mulher nua desce as escadas, um pássaro pousa sobre o cérebro, alguém alastra o fogo pelo mundo. De cima de suas contradições, a poeta grita que viaja na direção de seus medos e confessa baixinho que desconfia do corpo quando goza: há medo e fascínio nos poemas de Recomece, agora sem cigarro, por - que há medo e fascínio no corpo e no gozo. Mas você pode seguir sem desconfiança na leitura, lembre-se apenas de levar a coragem. Como dizem os versos de Christine, a partir deste ponto, todos os caminhos são noturnos e / são teus."

 

(Texto de orelha de Julia Dantas)

   

Leitura: Recomece, agora sem cigarro - Christine Gryschek

Arte & Direitos Humanos – Caminhos para uma Cultura de Paz 

Lumina - UFRGS

quantas festas (Ed. Urutau, 2021)

"Quanto? Uma palavra para indicar quantidade, intensidade, valor. Neste livro, porém, as medidas não medem, as instruções não prescrevem ensinamentos finais. As observações parecem mais apontamentos de um caderno de viajante, tornando visível o percurso. O trajeto até oferece aprendizados a compartilhar, mas não são os lugares de destino que importam.

Importa mais contornar a experiência. Talvez quando a realidade chega chegando, impactando com intensidade – quantas festas! –, haja um movimento vital do corpo para nomear, transfigurar-se, expandir-se como palavra, imagem: este livro de poesia, encharcado de sensorialidade.

              Há tantas instruções, regras do jogo, listagens dentro dos poemas. Se as enumerações e ordenações não servem para hierarquizar, como elas funcionam? Talvez seja para colocar à vista, como em um altar – o altar do que vibra, do que canta. A lista, essa artimanha primeira de organizar a informação, reinventa o redemoinho; faz uma arrumação lúdica, convida a um jogo de composição e de liberdade. Não são listas pragmáticas; são brinquedo de botar abaixo a diferença entre ordem e desordem, para friccionar e mapear os sentidos e os significados.

   No itinerário percorrido, dão-se as mãos memórias de infância purulenta, cidades do presente e do passado, imaginárias ou de concreto, famílias de sangue e de purpurina, vivências formativas de tantas festas diferentes.

              Eu contei: vinte festas por assim dizer manifestas, cento e setenta e duas disfarçadas. E veja que exclamação não se faz por acúmulo quantitativo: pensa o estrago de um beijo, de uma fogueira, de olhar um mar, de banhar-se em um rio, de um só amorzinho. Então a quem pergunta quantas foram as tantas, tantas que fiz, que faça parecido com o que sugere o poema de Alda Merini para a contabilização de seus amores: “(...) olhe/ nos bosques para ver / em quantas armadilhas ficou / meu pelo”.     

              Da mesma maneira orgânica com que a criação de uma autora conversa com a da outra, transbordante, dentro dos poemas há a incorporação de canções, diálogos, outras vozes do mundo que se integram nos versos, formando música própria. O caleidoscópio, no movimento dos versos encadeados, traz motivos que retornam ao longo do livro sob diferentes prismas. Cenas, temas, emoções, objetos, relações.

              Quantas festas? Esse título não se identifica por uma pergunta, mas uma constatação. Uma afirmação. É a vida, meu bem. Uma “resplandescência que jamais cessa”.

               (Texto de orelha de Moema Vilela)

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Quantas festas (Ed. Urutau, 2021) foi contemplado por um edital para compor a coleção de livros de poemas feministas "quem dera o sangue fosse só da menstruação", pelo selo Hecatombe. Foi escrito a quatro mãos, por Christine Gryschek e Juliana Maffeis.

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